Inovação “gandhiana”

dgbestMashelkar, antigo director do Laboratório Químico Nacional da Índia e presidente da Global Research Alliance (uma rede de institutos de pesquisa e desenvolvimento públicos dos Estados Unidos, Europa e da região Ásia/Pacífico), sentou-se para debater as suas ideias sobre inovações e descobertas e sobre acreditar no poder das tecnologias acessíveis para mudar a vida das pessoas.

O que é a engenharia «gandhiana»?

É um termo que criei para obter mais a partir de menos e para mais pessoas, uma nova forma de exprimir um dos ensinamentos de Gandhi: «A Terra fornece o suficiente para satisfazer as necessidades de todos, mas não para satisfazer a ganância de todos.» Por outras palavras, a engenharia «gandhiana» é uma inovação inclusiva: desenvolver produtos e serviços que melhorem a vida de todos, uma inovação que não deixe os pobres de fora. Estamos

a falar de cerca de quatro mil milhões de pessoas cujos rendimentos ficam abaixo dos 1,5 euros por dia. Para melhorar a qualidade de vida (o que é vital para que a Índia, a China e outras nações emergentes se juntem à economia global como iguais), temos de criar bens e serviços cujo custo seja muito baixo; não apenas acessíveis, mas extremamente acessíveis; não com «desempenho baixo e preço baixo», mas com «desempenho alto e preço baixo». Foi o que Ratan Tata [presidente da Tata Motors] fez com o Nano. Decidiu criar um automóvel com segurança, conforto e eficiente, a um custo acessível para todos os que conduziam veículos de duas rodas.

Pode dar-nos outro exemplo da engenharia «gandhiana» patente hoje na Índia?

Para os milhões de pessoas que vivem na costa da Índia e que dependem da pesca para sobreviverem, um novo sistema de previsão de possíveis zonas de pesca, ligado a satélites, aumentou os níveis de produtividade e os rendimentos. Antes de esta tecnologia estar disponível, os pescadores muitas vezes voltavam para casa ao fim do dia de mãos vazias. Actualmente, os cientistas conseguem ver a clorofila (a coloração verde da água criada pela actividade dos peixes) e também conseguem medir a temperatura da superfície do mar, que muda graças à actividade dos peixes. A informação deste novo sistema é transmitida aos pescadores de duas formas: primeiro, através de fóruns electrónicos onde é colocada a informação. Segundo, alguns fornecedores de serviços recebem a informação e depois enviam-nas por SMS para os telemóveis dos pescadores (telemóveis que actualmente são baratos na Índia). Quando o pescador se dirige para as regiões onde a densidade de peixes é maior, o seu nível de rendimentos será maior. E, algo importante, quando antigamente voltava após uma pescaria, esta poderia apodrecer porque o pescador não conseguia assegurar vendedores rapidamente. Hoje, usando o telemóvel ainda antes de chegar a terra, o pescador escolhe e fixa o local onde vai vender o peixe.

Toda esta tecnologia está a ser desenvolvida e usada para aumentar a prosperidade, tanto para o fornecedor de produtos de baixo custo (neste caso, por exemplo, a Bharti Airtel, uma das maiores empresas de telecomunicações da Ásia) e também para o utilizador (neste caso, o pescador). A tecnologia vai alterar as regras do jogo. Se fornecerem às pessoas uma inovação alta a custo baixo, estas tornar-se-ão mais produtivas e eficientes e o seu potencial aumentará. Podemos continuar a melhorar a vida das pessoas na Índia e em todo o mundo ao tornarmos esta tecnologia disponível e acessível.

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