Opinião. A importância do capital humano em momentos de crise

Os cenários de instabilidade económica são os mais “convidativos” à tomada de decisões nas empresas que podem ser precipitadas e contraproducentes. O sacrifício do capital humano é um dos melhores exemplos desta realidade.

Por Sérgio Azevedo, Managing Partner da Streamroad Consulting

Em todo o mundo, o momento é de muita tensão e incertezas. Logo, o papel dos recursos humanos em tempo de crise é ainda mais estratégico e essencial para a sobrevivência das empresas.

Estas, independentemente da sua dimensão ou natureza, são formadas por uma série de elementos que compõem a sua base. Entre eles, o mais importante é o capital humano. Por mais automatizado que seja um negócio, existem pessoas por trás de toda a operação. Sem elas, os produtos ou serviços não têm condições de serem entregues aos clientes e a organização não consegue manter-se sustentável.

As pessoas são, de facto, imprescindíveis e, por isso, devem ser devidamente valorizadas. Não se trata apenas de oferecer salários elevados e cargos de grande visibilidade, mas de entender o que os colaboradores precisam e desejam para se sentirem bem e motivados a fazer o seu melhor em prol dos bons resultados da empresa.

E, sobretudo, é importante não ceder à tentação de cortar nos recursos humanos para diminuir a estrutura de custos em tempos de crise.

De facto, em momentos difíceis, como os que se desenham no horizonte próximo, quando é imperativo reduzir despesas, o alvo tende a ser uma das maiores rubricas, senão mesmo a maior, dos custos das empresas: as pessoas. Há uma tentação enorme de “atacar” esta rubrica, porque existe um imediatismo na visibilidade dos efeitos dessa estratégia nos custos das organizações.

Mas esta tentação pode hipotecar o futuro das empresas, porque é indiscutível que o seu principal ativo são as pessoas!

Naturalmente, estamos a falar de empresas organizadas e produtivas. Ou seja, empresas que têm as suas forças de trabalho já otimizadas e ajustadas à sua realidade e à do mercado em que se inserem. Já têm, em resumo, a equipa certa.

É nestes casos que considero ser crucial fazer um esforço financeiro para não tocar nesta rúbrica, porque é aqui que reside o maior capital da empresa. E este capital humano é a melhor e a maior ferramenta que as empresas vão ter ao seu dispor para sair o mais rapidamente desta crise que se avizinha.

Não se trata só de poupar as pessoas ao desemprego, mas de salvaguardar a sobrevivência da empresa, tratando os seus recursos humanos como um elemento essencial ao futuro do negócio.

A valorização dos recursos humanos não é apenas expressa em termos de compensação financeira, é importante que a empresa valorize a equipa que tem, compreendendo que o seu capital humano é o que faz com que toda a engrenagem da empresa funcione.

Isto porque o valor que se dá ao capital humano reflete-se diretamente na qualidade do serviço prestado e na satisfação dos clientes. Uma equipa adequadamente valorizada é capaz de elevar o negócio a novos patamares, numa tendência de crescimento e evolução constantes.

É igualmente importante que a organização permita que os seus colaboradores sejam uma parte ativa na sua gestão, ouvindo-os e agindo de forma a conciliar interesses. Um colaborador que se sente apreciado pela sua empresa, irá certamente tentar superar as suas próprias expectativas, ajudando a empresa a ultrapassar a crise.

E, depois, não podemos esquecer as repercussões que uma redução de pessoal mal fundamentada pode precipitar. Ao fazê-lo, a empresa vê-se a braços, além dos óbvios custos de resolução contratuais, com o impacto sobre a carga de trabalho que outros colaboradores terão que absorver, o desperdício de investimentos com formação, capacitação e ambientação das pessoas demitidas e os efeitos sobre a sua reputação interna.

E não nos podemos esquecer que, a médio ou longo prazo, quando a crise terminar, as empresas que não olharam com cuidado para o capital humano podem ter um outro grande problema em mãos: a retenção de talentos. No primeiro momento, pela crise, as pessoas podem e vão continuar onde estão, mas lá mais à frente, e à primeira oportunidade, poderão não pensar duas vezes.

A verdade é que as empresas que souberem manter as suas equipas em tempos de adversidade serão as que vão estar mais bem preparadas para recuperar no mais curto período de tempo possível.

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